segunda-feira, 7 de outubro de 2013

INDÚSTRIA DAS MESMAS DISCUSSÕES


 
 

No mundo contemporâneo (pós-pós-moderno) e diante de suas inúmeras “complexidades temáticas”, as tais conferências, congressos e simpósios se multiplicaram de forma inimaginável e já estão entrando naquilo que o filósofo Miguel Sturvinski denomina de “ reprodução estéril das mesmas coisas”.

Tem conferência para decidir assuntos para outra conferência e congressos pomposos que tratam dos mesmíssimos assuntos em “novas-velhas” teses, críticas, encaminhamentos e desafios.

Nem bem acaba uma conferência e já inicia outra com variações e floreios diferenciados dos mesmos “debates já debatidos”.

Segundo pesquisas feitas pelo pós-pós-doutor Richard Brutcholl, em seu livro: A reprodução do óbvio, Editora sarcasmos, 3ª edição-já foram realizadas 25733 congressos, simpósios e conferências falando sobre o tal desenvolvimento sustentável, biodiversidade e a importância de se preservar a natureza para as futuras gerações.

Sobre como “entender profundamente” as origens e causas da violência urbana e qual a profilaxia e planos governamentais para diminuí-la já houve mais de 34789 encontros, gastando bilhões com  hotéis, alimentação, transporte. Etc.

Existe uma verdadeira “indústria das mesmas discussões” que movimenta bilhões para discutir e debater o óbvio.

O meu amigo Juca Alves, por exemplo, já participou de uns 200 encontros sobre a temática do adolescente infrator (Estatuto da Criança e Adolescente) e da aplicação de medidas socioeducativas e quais as formas de retirar jovens das ruas, das drogas e diminuir os índices de internações, de atos infracionais e outras salamandras do gênero.

O Juca confidenciou-me que os debates são rigorosamente os mesmos, diferindo apenas que uns palestrantes citam autores Italianos e outros Franceses e Americanos, passando uma espécie de “verniz especial” sobre aquilo que todos estão coalhados de saber.

Assuntos como a “ética e a moralidade na política”, ele participou de uns 30 congressos e todos os oradores concluíram exatamente aquilo que já haviam dito em edições anteriores, de modo que a simples reprodução de uma edição anterior já resolveria a questão, podendo até ser enviada por arquivo de áudio para os que estivessem interessados, sem maiores custos e perda de tempo.

Atualmente, o Juca entrou em depressão e desenvolveu verdadeiro trauma com tais eventos. Tanto que sequer participa de uma simples reunião familiar.

Revoltou-se com a “ punheta ideológica e teórica” sobre temas que se tornaram insuportáveis por serem óbvios demais.
Ele acha que no futuro existirá uma máquina onde o cidadão escolherá um tema, colocará algumas moedas e com um fone de ouvido poderá ouvir uma síntese de assuntos, resumindo umas 15 mil palestras em apenas alguns tópicos. A tecnologia dará um jeito de tornar mais prático e suportável aquilo que hoje está ficando chato e caro demais.

O Juca prefere plantar árvore, cultivar hortaliças e fazer caridade ajudando alguém que esteja necessitado de verdade.

Já não quer mais “salvar o mundo” apenas em discursos e verborragias teatrais.

 

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