Talvez a pior psicopatologia contemporânea seja a denominada “livrose” (Compêndio de Psicopatologias, Luis Fernando Arbo. Editora Mania de Grandeza, 2011). A tal ponto que muito em breve, segundo pesquisadores de renome internacional – com pós-pós-doutorado- acabará superando a própria depressão.
A “livrose” caracteriza-se na crença obsessiva de que a leitura de determinados livros, transforma o homem em detentor de uma “luminescência” que o distingue dos “comuns mortais”.
O homem se transforma numa espécie de papagaio de pirata dos “ensinamentos livrescos”. Como se isso fosse a panacéia para tudo na vida. Terminam com discussões ou debates no argumento de que algum velho – sábio do passado já havia esgotado a interpretação “ mais correta e adequada” sobre a questão em debate. E ponto final!
O “gozo” de quem sofre de” livrose” é gabar-se de “estar lendo’ ou “ter lido” um livro que ninguém ( ou pouquíssimos) tenha lido: geralmente com algum título exótico a ponto de dar a entender que só os iluminados conseguem interpretar.
Esses dias, um amigo de Porto Alegre, mandou-me um chasque virtual só para informar que estava lendo a Hermenêutica Ontológica da felicidade: obra perdida de Santo Agostinho e com poucos exemplares no mundo. Raridade absoluta!
Revelou-me isso ( da leitura de tal obra raríssima) com tamanho entusiasmo que representava que a leitura de tal obra pudesse fazê-lo transcender a finitude da vida, ganhando de bônus uns 400 anos de vida. Era mais que a descoberta da tal pedra filosofal: fórmula secreta para transformar qualquer metal em ouro.
Pior mesmo é quando o sujeito faz da leitura uma espécie de competição. Acumula uns 5 mil livros, portando-se como um sábio que ninguém ousa consultar. Quer pela arrogância que lhe é característica, humilhando quem não tenha interpretado algo da sua forma ou lido determinado livro; quer por uma tremenda incapacidade de sociabilidade e uma graúda amargura interior.
Há pessoas ( portadoras da livrose) que semeiam inimizades em uma simples e banal conversa sobre determinado livro. CASA GRANDE e SENZALA de Gilberto Freire é um exemplo disso. Escutei, certa feita, um doutor, após algumas cervejas, “xingando” um colega quando este colocou em dúvida a importância do supracitado livro para a reinterpretação da raça pela cultura e outras salamandras que, tamanha a minha ignorância, não consegui entender. A discussão quase terminou em agressões físicas.
Até os meus 19 anos eu padecia do mais alto grau dessa doença. Era terrível contra os insetos! Mas, só contra os insetos!! Recordo-me que abandonei aos berros uma tertúlia diante da raquítica e vergonhosa declamação de uma poesia de Aureliano de Figueiredo Pinto . Alegava, à época, que antes de qualquer interpretação deveriam ler um livro sobre como se deveriam interpretar tais poesias. Eu só deixava fiasco! Que barbaridade!
Depois, o piá de bosta morreu em mim e fui percebendo que a verdadeira erudição era respeitar o pensamento alheio e discordar com educação e sem desequilíbrios patológicos.
Levar o “certo” longe demais o torna “ errado”. Ser enfadonho no uso da “inteligência” (ou da burrice) só faz acumular ciumentos e magoados. Isso sem mencionar dos que criam um Blog só com o propósito de te difamar.
A própria inteligência se esgota, dizia o meu amigo Baltazar.
O bom falcoeiro usa apenas os pássaros que a caça exige.
Melhor é preservar amizades!
Cuidado com a “livrose”.
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