quarta-feira, 28 de maio de 2014

ILUSÕES REFINADAS

                                                    
 


         Ilusões refinadas, sofisticadas, requintadas sempre venderam bem. É imenso o número de pessoas que se encanta com um charlatão vestido de terno e gravata da Armani, pregando moral e prometendo a certeza de um futuro feliz e de extremo sucesso.
        A humildade e simplicidade de Cristo ou de um Francisco de Assis não tem o mesmo poder de persuasão que uma ideologia de grife, com marca consagrada e que tenha fragrância de perfume importado.
       Foi realizada uma pesquisa na Universidade de Edimburgo, onde se constatou que a esmagadora maioria das pessoas prefere uma “ ilusão refinada” onde exista uma mistura de mármore, ouro e gente bem vestida debuxando relatos de que vivem em um mundo encantado e distante de problemas, justamente por terem apostado e seguido os ensinamentos milagrosos e  mágicos de determinado guru ou sábio.
       E quando o assunto é “credibilidade”, constatou-se ser uma grandeza diretamente proporcional com o pagamento de um valor significativo de dízimo ou contribuição. Em outras palavras: as pessoas que eram estimuladas a contribuir com uma boa quantia em dinheiro davam maior credibilidade e respeito àquela “instituição” com quem estavam lidando. Livros com títulos inusitados e exóticos foram vendidos por até R$ 2000 ( dois mil reais).
        Tendo conhecimento de tais pesquisas, alguns vendem sua crença, ideologia ou " filosofia de vida" em 20 x no cartão de crédito com direito a máquina para passar o cartão a cada 5 fileiras de bancos dentro de suas sedes.
      Comercializa-se de tudo, sendo a crença apenas uma forma de reunião do grande público.
    Com o avanço da tecnologia já existem pen drives e “nuvens”  onde são depositados arquivos de “pensadores consagrados” e de “ alto coturno” que podem, de alguma forma, orientar e salvar a vida de muitos ( curar, levar ao sucesso, alegria infinita, etc).
     Por algumas pratas o fiel ou cliente ganha uma senha para acessar esse conteúdo que é sempre atualizado pelos que entendem do assunto. É sucesso garantido.
         Os que não se atualizam ou são pobres demais, além da "condenação divida" em decorrência de seus próprios atos ( livre arbítrio de continuarem pobres) fatalmente, em curto espaço de tempo, estarão excluídos de todo e qualquer "ensinamento de salvação".
      Segundo o filósofo Polonês Miguel Sturvinski, essa é a tendência predominante na pós-pós-modernidade. Claro que existem exceções.
        Queixando-se de que o mundo “vai errado”, em um passado que ultrapassa a 100 anos, dizia o imortal poeta Gregório de Matos Guerra:
     
    Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.

O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ousadas,
Do que anda só o engenho mais profundo?

Não é fácil viver entre os insanos,
Erra quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.

O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de enganos,
Ser louco c’os demais, que, só, sisudo.

Seguindo o conselho do poeta, não ouso opinar sobre tal assunto.
Mantenho-me mudo.

E segue o barco da vida no vasto rio da existência.

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