
Ser gaúcho é um delito, em 1872,
escreveu José Hernández em seu famoso Martin Fierro. E de fato era.
Qualquer piá sabe que os “
gaúchos” eram mestiços sem lei, sem chefe e que viviam longe da ordem e da
polícia, troteando ou vagando sem destino e sem saber se estavam no Brasil,
Cisplatina ou Argentina.
Com o tempo, os grandes
proprietários de terra os consideraram desordeiros e a própria sociedade
sul-rio-grandense acabaria por marginalizá-los ainda mais se posicionando
favorável a que fossem perseguidos pela polícia.
E sem floreios e bajulações o
fato é que a Revolução Farroupilha serviu mais para dimensionar e estruturar
ainda mais o poder de grandes estanceiros (caramurus e farroupilhas) não
mudando patavina alguma na vida dos trabalhadores livres e dos escravos.
Os “gaúchos” na Revolução foram
usados pelos grandes proprietários naquilo que tinham de melhor: suas
habilidades de guerreiros e conhecimentos geográficos da pampa.
Tendo fama de bons lutadores (com
facão e lança) os estanceiros arregimentaram os “gaúchos” para as guerras ou
combates que tramavam fazer diante dos seus descontentamentos particulares.
O Governo Imperial vinha deixando
esses poderosos descontentes e seus interesses ou eram negados ou prejudicados.
Lideraram então escravos,
trabalhadores livres e “ gaúchos” para travar escaramuças que ao final só
serviriam para ( logicamente) ampliar suas propriedades, seu poder: com o
domínio da produção e valorização do charque e até mesmo do contrabando.
Os líderes garantiram suas
propriedades ( em termos de legitimação) e elevaram o seu poder, prosseguindo
uma concentração de terras ainda maior que a anterior a dita Revolução. Aos
“gaúchos” restou o discurso ideológico do “ gaúcho herói”, ou seja: que foram
destemidos, valentes, superiores e um exemplo que deve ser eternamente
recordado.
O historiador Torronteguy, sobre
o episódio Farroupilha escreveu: “ do ponto de vista material foi pura ilusão.
Essa ideologia ultrapassou o século XIX e chegou até o presente travestida de
um outro nome, o tradicionalismo, servindo para cultuar os costumes de
antepassados, mas, no fundo escondendo a perversa troca que houve: em vez de
dar terras aos trabalhadores e fazer uma verdadeira justiça social, os
poderosos proprietários deram a ilusão de que eles ( os gaúchos) foram “
poderosos guerreiros” e que jamais a posteridade os esqueceria.
A Revolução Farroupilha não foi nada
semelhante ao mito criado por alguns historiadores românticos e que prossegue
sustentado no “rito bonito e sedutor” daquilo que se denomina de tradição.
De qualquer forma, ao contrário
do apregoado por Juremir Machado, o melhor mesmo é continuar acreditando num
passado idealizado no campo, onde as pessoas são sempre honestas, sinceras,
valentes e hospitaleiras.
É isso que ensinarei aos meus
filhos.
Viva os heróis Farroupilhas! Viva
a Revolução! Viva o “ gaúcho” herói !
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