JAZIGO DE SI MESMA eis a casa velha da foto. É uma resistência ao progresso. Um sofrimento estático que fatalmente será sepultada e substituída por um prédio comercial, uma casa moderna, etc.
A dita casa resiste! É um deboche ao novo Ijuí. Em seu porão, muitos fantasmas perambulando errantes, contando seus dramas familiares, alegrias, comemorações e infortúnios vários. Quantos nela residiram? Por qual razão chegou a tal ponto de decomposição e decrepitude?
As casas, tal como acontece com os homens, também morrem. Os homens têm a vantagem da crença na imortalidade. Serve de consolo.
Tudo tem o seu auge e o seu declino, ocaso. Óbvio! Dói constatar isso no simbolismo de uma moradia. A casa tem numeração 885. Números quase apagados, tal como todo um significativo passado que se apaga com a hoje arruinada construção.
O luto se aproxima! Luto inevitável! Confesso que sequer preciso adentrar a dita tapera e já conheço o seu interior. Algo de uma vida passada? Talvez eu tenha morado ali, pois acredito na reencarnação de acordo com a doutrina espírita.
Tivesse algum poder tombaria (no sentido jurídico de proteção, tornar indestrutível e preservada) a referida casa. Seria intocável e preservada. Seria uma parte de Ijuí não conspurcada pelo dito progresso. Um contraponto ao novo. Um pequeno universo plasmado a evidenciar que nem tudo segue o mesmo caminho e destino.
Mas, que nada! Grande ilusão! Vai preponderar uma nova paisagem. O capital tudo esmaga e corrompe e logo a tapera não mais existirá. Ficará apenas na memória dos que nela viveram, de quem a viu e nas fotografias existentes, tais como as que ficam nesse arquivo desse blog.
E tudo acaba virando arquivo. Até o Bill Gates! Tal casa é um pouco da melancolia que a finitude nos causa. Resistimos com a consciência de que breve estaremos tal como essa casa: velhos, decrépitos a caminho do inevitável. Viraremos mera recordação na memória de quem nos conheceu e amou ou permaneceremos em alguma fotografia em algum álbum embotado pela inegociável e irrevogável ação do tempo.
E assim seguimos: fazendo artesanato da dor.
E parece que vejo e ouço o sinistro corvo da poesia de Edgar Allan Poe (com a sua irredutível ideia de irreversibilidade das coisas) sentenciando:
– NEVER MORE! NEVER MORE! NEVER MORE!
Escrito por LUIS FERNANDO ARBO.
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